O Tarô em Perspectiva: Reconhecer a Essência Simbólica na Modernidade
O que realmente define o Tarô?
Essa pergunta, aparentemente simples, gera uma diversidade de respostas que, muitas vezes, refletem visões conflitantes, colocando o Tarô em perspectiva. Com o passar dos séculos, o Tarô evoluiu de um simples baralho para um conjunto de cartas com profundas conexões simbólicas.
Sua riqueza simbólica permitiu que fosse associado a práticas diversas, como a Cabala, astrologia e psicologia. Embora essas associações enriqueçam sua aplicação, elas também podem obscurecer sua essência.
Neste artigo, exploraremos por que reconhecer a simbologia clássica do Tarô é fundamental e como isso pode oferecer uma base sólida tanto para iniciantes quanto para praticantes experientes.
A Essência Simbólica do Tarô
O Tarô é, acima de tudo, uma ferramenta de conexão com o simbólico. Suas cartas, especialmente os Arcanos Maiores, carregam imagens arquetípicas que transcendem culturas e épocas, tocando aspectos profundos da psique humana.
Até mesmo os Arcanos Menores possuem essa característica, embora de forma mais sutil. Eles remetem ao cotidiano, enquanto os Arcanos da Corte refletem aspectos da personalidade, e os Arcanos Numerados, mesmo com sua representação quantitativa dos naipes, indicam a qualidade de nossas ações no contexto dos Arcanos Maiores.
No entanto, é importante distinguir os arquétipos em si das cartas do Tarô. Arquétipos, segundo Carl Jung, são ideias universais e amplas que não podem ser representadas em sua totalidade.
As cartas, como “O Louco” ou “A Sacerdotisa”, aproximam-se dessas ideias, mas jamais as encapsulam por completo. Elas são, na verdade, manifestações específicas de uma essência arquetípica, convidando o intérprete a explorar seus significados e ressonâncias. Nenhum Arcano é um arquétipo; no máximo, possui uma ênfase que o correlaciona de forma mais intensa.
Por que Começar pelos Tarôs Clássicos?
Quando se fala em Tarôs Clássicos, é inevitável mencionar o Tarô de Marselha e o Visconti Sforza. Esses baralhos, que precedem as associações modernas, representam o Tarô em sua forma mais pura e simbólica.
O simbolismo dos Tarôs Clássicos não sofreu influência de correlações externas, como Cabala ou astrologia, que se intensificaram no Tarô a partir do século XVIII. Essa pureza simbólica facilita um estudo focado na estrutura original das cartas e nos significados fundamentais dos Arcanos. Esses baralhos fornecem uma base sólida para quem deseja compreender o Tarô em sua essência, e depois enriquecê-la com outras interpretações e associações.
Associações Modernas: Riqueza ou Risco?
É inegável que as associações com disciplinas como psicologia, Cabala e mitologia enriquecem a prática do Tarô. No entanto, o problema surge quando essas associações começam a ser tratadas como verdades absolutas, substituindo a simbologia original das cartas.
- Exemplo de distorção simbólica: O Arcano XI no Tarô Mitológico, de Liz Greene e Juliet Sharman-Burke, apresenta Hércules enfrentando o Leão de Neméia. Essa interpretação, embora rica em narrativa mitológica, desvia-se do simbolismo original da carta, que trata de força interior e controle, diluindo seu significado arquetípico clássico.Outro exemplo significativo é o Osho Zen Tarô. Embora carregue o nome “Tarô”, sua estrutura e simbologia diferem profundamente do que é tradicionalmente conhecido como Tarô. O Arcano V, por exemplo, não apresenta uma imagem simbólica, apenas um fundo preto, e o baralho inclui uma carta extra, rompendo com a estrutura clássica dos 78 Arcanos. Ainda que os conceitos de Osho sejam valiosos para muitos, isso não justifica a distorção de outros conhecimentos ou a redefinição do que constitui um Tarô clássico.
- Risco para iniciantes: Aqueles que estão começando na jornada do Tarô podem ser facilmente impressionados por interpretações complexas e modismos. Sem uma base sólida na simbologia, correm o risco de acreditar que o Tarô “pertence” a outra prática, como a Cabala ou a psicologia de Jung.
- Educação como solução: O papel do educador de Tarô é crucial aqui. Todo educador ou praticante terá, de alguma forma, uma preferência ou um viés que poderá interferir em seu julgamento. Nesse sentido, a maturidade desempenha um papel essencial para aperfeiçoar a comunicação e permitir que ela se aproxime de um ideal de imparcialidade, refletindo o conceito do Arcano A Justiça.
Educar é apresentar o conceito e diferenciar o conceito de analogias e correlações externas. Impor é apresentar correlações e analogias externas como sendo verdades absolutas, a ponto de distorcer o conceito original. Analogias podem ser úteis para enriquecer o ensino, mas devem ser claramente apresentadas como ferramentas metodológicas, e não como uma redefinição da essência do Tarô.
Modernidade e o Tarô Rider-Waite
O Tarô Rider-Waite, criado em 1910, é frequentemente chamado de clássico ou tradicional, mas ele adota uma abordagem modernizada do Tarô. Este baralho trouxe mudanças significativas: inverteu as posições dos Arcanos VIII e XI, incluiu símbolos específicos da Cabala e desenhou os Arcanos Menores com ilustrações detalhadas que facilitam interpretações, mas limitam seus significados.
Chamar o Rider-Waite de clássico é um equívoco conceitual. Ele marcou o início do século XX, mas uma visão moderna moldou sua estrutura, adaptando-a às associações esotéricas daquele período. Reconhecer o Rider-Waite como um Tarô Moderno não diminui sua importância, mas distingue sua abordagem dos Tarôs mais antigos que o inspiraram.
O Educador no Tarô: Preservar, Incluir e Orientar
Como educador ou praticante experiente, a responsabilidade de orientar novos estudantes vai além de transmitir conhecimento técnico. É essencial preservar a essência simbólica do Tarô enquanto se acolhe a diversidade de interpretações.
- Educar sem impor: Ao apresentar uma analogia ou correlação em relação a simbologia clássica, o educador deve evitar um tom impositivo. Em vez disso, a abordagem deve ser de incentivo ao estudo crítico e à experimentação, permitindo que os estudantes formem suas próprias opiniões com base em uma compreensão sólida.
- Proteger contra a desinformação: A preservação ou foco na simbologia clássica não significa rejeitar associações modernas, mas reconhecer que elas são complementares. Ao fazer isso, garantimos que o Tarô não perca sua essência em meio a tantas formas de gerar correlação, analogia, ao referenciar estereótipos ou a possíveis inovações.
Conclusão: Um Chamado à Reflexão
O Tarô é uma ferramenta rica e versátil, cuja simbologia é a base que sustenta todas as suas interpretações e associações. Preservar essa essência simbólica é uma forma de honrar sua história e garantir que ele continue sendo uma fonte de autoconhecimento e transformação pessoal.
Para aqueles que estão começando na jornada do Tarô, o convite é claro: explore com curiosidade, mas nunca perca de vista a essência simbólica que sempre esteve presente nas cartas. Ao compreender o Tarô em sua essência, você estará mais preparado para explorar suas infinitas possibilidades sem perder de vista sua base simbólica. Como você está construindo sua relação com o Tarô? Redescubra o Tarô em sua forma mais pura e permita-se ir além.
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